'Rússia está mais aliviada que preocupada com ameaça tarifária de Trump', diz correspondente da BBC em Moscou
Vladimir Putin Getty Images via BBC Nesta segunda-feira (14), no Salão Oval, Donald Trump falou em tom duro e anunciou novos envios de armas americanas à UcrÃ...

Vladimir Putin Getty Images via BBC Nesta segunda-feira (14), no Salão Oval, Donald Trump falou em tom duro e anunciou novos envios de armas americanas à Ucrânia, financiados por governos europeus. O presidente dos Estados Unidos também ameaçou impor novas tarifas que, se aplicadas, afetariam gravemente o orçamento de guerra da Rússia. Como reagiu a bolsa de valores em Moscou? Subiu 2,7%. Isso porque a Rússia esperava sanções ainda mais severas por parte do presidente Trump. "Rússia e Estados Unidos caminham para uma nova rodada de confrontos por causa da Ucrânia", alertou a edição de segunda-feira do tabloide Moskovsky Komsomolets. "A surpresa de Trump na segunda-feira não será agradável para o nosso paÃs." De fato, o anúncio não foi "agradável". Mas a Rússia, por exemplo, se sentirá aliviada pelo fato de que as tarifas secundárias contra seus parceiros comerciais só entrarão em vigor daqui a 50 dias. Isso dá a Moscou tempo de sobra para apresentar contrapropostas e adiar ainda mais a implementação das sanções. Ainda assim, o anúncio de Trump representa uma postura mais dura em relação à Rússia. Também reflete sua frustração com a relutância de Vladimir Putin em assinar um acordo de paz. Trump ameaça impor tarifas e sanções contra Rússia se paÃs não aceitar paz e decisão pode afetar Brasil 'Sim, mas…' Quando retornou à Casa Branca, em janeiro, Trump fez do fim da guerra na Ucrânia uma de suas prioridades na polÃtica externa. Durante meses, a resposta de Moscou foi: "Sim, mas…" Sim, disse a Rússia em março, ao receber com entusiasmo a proposta do presidente Trump por um cessar-fogo. Mas, acrescentou, era necessário que cessasse primeiro o apoio militar e o intercâmbio de inteligência entre o Ocidente e Kiev, assim como a mobilização militar ucraniana. Sim, Moscou insiste que quer a paz. Mas antes, segundo o Kremlin, é preciso resolver as "causas profundas" da guerra. Acontece que o Kremlin as enxerga de forma muito diferente da Ucrânia e do Ocidente. LEIA TAMBÉM: Tarifas de Trump: por que ameaça de taxar Rússia em 100% representa 'reviravolta dramática' Indiferente a ameaças de Trump, Putin vai continuar guerra na Ucrânia até ter exigências atendidas pelo Ocidente A Rússia argumenta que a guerra é consequência de ameaças externas à sua segurança, vindas de Kiev, da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e do "Ocidente coletivo". No entanto, em fevereiro de 2022, não foram a Ucrânia, a Otan nem o Ocidente que invadiram a Rússia. Foi Moscou que lançou uma invasão em larga escala contra a Ucrânia, desencadeando a maior guerra terrestre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Durante um bom tempo, a estratégia do "Sim, mas…" permitiu a Moscou evitar novas sanções dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que mantinha a guerra em curso. Na tentativa de melhorar as relações bilaterais com a Rússia e negociar um acordo de paz para a Ucrânia, o governo Trump preferiu oferecer incentivos em vez de recorrer a ameaças nas conversas com autoridades russas. CrÃticos do Kremlin advertiram que o "Sim, mas…" era uma estratégia russa para ganhar tempo. Mesmo assim, Trump esperava convencer Vladimir Putin a fechar um acordo. O presidente russo, no entanto, não parece ter pressa. O Kremlin acredita ter vantagem no campo de batalha e insiste que quer a paz — mas nos seus próprios termos. VÃdeos em alta no g1 Esses termos incluem o fim dos envios de armas ocidentais à Ucrânia. Mas o anúncio de Trump deixa claro que isso não vai acontecer. O presidente americano disse que "não está satisfeito" com Vladimir Putin. Mas a decepção é uma via de mão dupla. A Rússia também se desiludiu com o presidente dos Estados Unidos. Na segunda-feira, o Moskovsky Komsomolets escreveu: "[Trump] claramente sofre de delÃrios de grandeza. E fala demais".